O capitalismo e os historiadores brasileiros (Concurso IMB)
Nota
do IMB: o artigo a seguir faz parte do concurso de artigos promovidos pelo
Instituto Mises Brasil (leia mais
O igualitarismo ainda é
endêmico no mundo desenvolvido, e pode ser que os marxistas ainda vejam suas
idéias renascerem por lá: a fragilidade econômica tende a aumentar com as
políticas de intervenção maciças, e em períodos turbulentos as idéias mais
sensatas parecem não prover um caminho fácil o suficiente para longe dos
problemas. A possibilidade de uma
renascença de teorias arrogantes a ponto de se dizerem "historicamente
inevitáveis", e que de quebra provêem uma solução essencialmente milagrosa para
todos os problemas do mundo, não pode ser descartada. Mas é fato que, em outras
paragens, o marxismo como orientação acadêmica está anêmico se comparado com
seus dias de glória em que o triunfo do "planejamento" parecia inevitável. Existe alguma explicação objetiva para sua
persistência nos trópicos? Como foi que
o sonho socialista se esquivou da onda de choque resultante do período
1989-1991? Os alunos de escolas e
universidades pelo Brasil afora podem atestar que seus professores marxistas,
que são legião, não têm nenhum pudor em avançar suas idéias, as quais são
recebidas com a maior seriedade; continuam gozando de enorme popularidade entre
seus alunos; e se referem ao fracasso do socialismo com todo o sarcasmo do
mundo, como se não passasse de propaganda neoliberal. Em um artigo recente no
site LewRockwell.com, Gary North disse que os "acadêmicos respeitam o poder" -
e enquanto a União Soviética tinha poder, marxistas eram levados a sério pelo
mundo afora. Sem dúvida, há uma tendência que poderia ser considerada natural,
mas nem por isso menos lamentável por parte daqueles que deveriam ser os
buscadores incansáveis da verdade científica, de pender para o lado com o
arsenal mais impressionante (metafórica e literalmente). No Brasil e na América
Latina em geral, os planejadores centrais têm estado entrincheirados no aparato
estatal desde que o país se formou como tal. O setor privado, em todas as
escalas, sempre viveu numa relação simbiótica ou de conflito com os ilustres
guardiões do bem público - e o setor acadêmico não é exceção. O positivismo reinante nos
primórdios da República brasileira era supostamente inimigo mortal do marxismo
e outras "anarquias", e os jovens são ensinados que foi com o movimento
representado pela - e é doloroso citar este clichê da intelectualidade
tupiniquim - Semana da Arte Moderna que deu ao Brasil uma identidade, superando
o que é geralmente tratado (não sem merecimento, apesar de pelas razões
erradas) como um período de imitação medíocre dos piores modismos europeus. Na verdade, se trata de uma
transição um tanto quanto natural, de uma utopia crua e com pouca beleza para
outra, elaborada e declarando-se científica ao mesmo tempo em que inspirava o
romantismo naqueles que se abriam para ela. Quando um professor esquerdista de
colégio discursa sobre a importância simbólica da Semana, ele está pagando
tributo à penetração do marxismo & cia. na matriz intelectual do país -
apesar de isso ser eufemisticamente interpretado como uma abertura para "novas
idéias". Mas por que o marxismo, de
todas as fantasias estatistas, emergiu como a tendência dominante? Pois ele o
é, se não por contar com o maior número de seguidores abertos, ao menos por sua
influência penetrante na visão de mundo da maioria esmagadora daqueles com
alguma formação acadêmica. Esse lamentável estado das coisas provavelmente tem
sua origem em uma demonstração quase perfeita dos efeitos colaterais do
intervencionismo: a ditadura militar. Os militares se arrogaram o
"dever" de liderar o país em uma estrada que levasse à prosperidade e para
longe de conceitos perigosos como o "comunismo". E para isso adotaram métodos
idênticos em qualidade, se não em intensidade, aos que se dispunham a realizar
as façanhas mais infames em nome do triunfo do proletariado. O resultado disso
no mundo das idéias foi uma martirização da esquerda em geral, que,
evidentemente, bate o pé no chão insistindo que a ditadura encarnava tudo de
horrível que havia no capitalismo. O prestígio da esquerda
socialista light ao fim da ditadura
militar teve momento suficiente para carregá-la com status de VIP através do
período pós-ditadura, incluindo o colapso da União Soviética. Vestindo o manto
da Inquisição, os marxistas tiveram carta branca para apontar qualquer evento
impopular como obra do capitalismo, neoliberalismo, fascismo, nazismo, et
cetera (geralmente usados, comicamente, de forma intercambiável). Se os militares procuravam
defender o livre mercado - o que é duvidoso, visto que a violência não pode ser
um "meio" para atingir o "fim" da liberdade - dificilmente poderiam ter feito
um trabalho pior. Na hipótese muito mais provável de que eles não tivessem a
menor intenção de preservar a liberdade dos brasileiros, mesmo assim eles
fracassaram espetacularmente, e a ala estatista oposta, a dos socialistas em
geral (das quais o marxismo "científico" é a vertente acadêmica mais difundida)
tinha infiltrado o aparato estatal, a matriz educacional, e o mundo intelectual
quase que completamente. Essa corrupção sistemática não é exclusiva do Brasil,
ou outros países "emergentes", mas é notória a tendência dos latino-americanos
em particular de se referir à mais-valia ou outro termo que dá calafrios na
espinha para clamar por mudança social. Pelo menos em parte devido ao
zelo dos militares no combate ao comunismo, os brasileiros seguiram
contaminados pelo resíduo deste por uma geração além dos países chamados
desenvolvidos. E, apesar de o marxismo ser apenas um, e talvez não o mais insidioso,
dos estatismos modernos, certamente é o que mais tem enlouquecido os
brasileiros da última geração, de forma que é (quase) uma lufada de ar fresco
ver o jargão do Keynesianismo vagarosamente suplantar a luta de classes como
justificativa favorita dos políticos para atacar o livre mercado. Não que a Grande Depressão
seja remotamente agradável, mas sem dúvida é uma alternativa superior aos
Gulags.
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