Teoria Austríaca, Ciclos e Deflação (Concurso IMB)
Nota do IMB: o artigo a seguir faz parte do concurso de artigos promovidos pelo Instituto Mises Brasil (leia mais
O economista Ludwig von Mises diferencia a inflação "simples" da expansão de crédito[1]. No primeiro caso, há apenas realocação de recursos do setor público para o privado. No segundo, temos a manipulação da taxa de juros pelo estado, que provoca os ciclos econômicos. Com o objetivo é facilitar o crédito para os empresários, a preferência temporal dos agentes não é levada em conta. Por exemplo, se a taxa de juros do mercado fosse de 6% e o banco central manipulasse para baixar para 4%, investimentos que não seriam feitos antes, agora serão. Contudo, esses investimentos não levam em conta que a preferência temporal dos agentes é de 6%, então, no futuro, não haverá demanda para tanta produção. Assim, os empresários endividados irão à falência. Ou seja, a manipulação dos juros feita pelo estado é a causa dos ciclos econômicos. Um crescimento que respeite a preferência temporal dos agentes é sustentável, pois os recursos estão sendo alocados de forma que as pessoas querem. Se os juros são baixados artificialmente, os recursos não vão ser alocados segundo a escolha original dos agentes, pois, os empresários vão investir esperando demanda futura, e os consumidores resolveram gastar mais no presente. O único resultado possível é a crise e quebra geral de empresas e bancos. E quando isso acontece é necessário que o governo não tente salvá-los, pois se os investimentos foram incorretos, ajudá-los só seria criar uma bola de neve: num primeiro momento a economia voltaria a crescer, para depois a quebradeira se tornar mais profunda. Deflação Apesar de o mainstream acadêmico demonstrar o contrário, a deflação não é necessariamente ruim. Deflação é quando a moeda se torna mais valiosa e mais escassa em relação à demanda. Segundo Joseph Salerno, existem quatro tipos de deflação[2]: Growth Deflation, Cash-Building Deflation, Bank-Credit Deflation e Confiscatory Deflation. Growth Deflation. O aumento da produção, maior que a desvalorização da moeda (causada pelo governo), causa a valorização relativa da mesma. Isso é o que temos visto durantes vários anos. Por exemplo, o preço de aparelhos eletrônicos baixou com o tempo devido ao ganho de produtividade e avanço tecnológico. Então a moeda ganhou poder de compra para esses produtos. Esse tipo de deflação é benéfico, pois aumenta a satisfação das pessoas. Cash-Building Deflation É o aumento da demanda por moeda com o intuito de poupá-la. Essa deflação não é ruim, pois está de acordo com a preferência temporal dos agentes. Os indivíduos resolvem poupar mais para consumir no futuro. É uma deflação de acordo com as leis de mercado. Bank-Credit Deflation Essa deflação ocorre devido às reservas fracionárias. Quando os depositantes vão sacar seu dinheiro do banco e percebem que não há para todo mundo, a corrida pela moeda aumenta seu valor. Isso pode causar ainda uma crise sistêmica, pois as pessoas ficarão desconfiadas dos demais bancos, e podem fazer o mesmo. O resultado será uma demanda crescente por moeda, que causa sua valorização. Como está claro, essa deflação não é boa, pois ocorre pela errada percepção dos agentes de que os bancos realmente têm toda a moeda que diz ter. Confiscatory Deflation Os governos usam como desculpa a inflação para confiscar a poupança dos indivíduos. Essa ação desrespeita o direito de propriedade das pessoas, pois elas não podem usar o que lhes pertence. E toda agressão à propriedade causa ineficiência econômica, então esse tipo de deflação não é desejável. Conclusão Pudemos perceber que qualquer tentativa de manipulação da moeda por parte de uma entidade coercitiva causa distorções no mercado e perda de bem-estar dos indivíduos. A solução, como para as demais áreas, é deixar que o mercado cuide do fornecimento de moeda, que é a única forma de gerar eficiência para as pessoas. ________________________________________ Notas: [1] Ver Larry J. Sechrest, Explaining Malinvestment and Overinvestment. [2] Ver Joseph T. Salerno, An Austrian Taxonomy of Deflation. Referências: KAZA, Greg, Deflation and Economic Growth. The Quarterly Journal of Austrian Economics, Vol. 9, Nº 2, 2006. SALERNO, Joseph T. An Austrian Taxonomy of Deflation. The Mises Institute, 2002. SECHREST, Larry J. Explaining Malinvestment and Overinvestment. The Quarterly Journal of Austrian Economics, Vol. 9, Nº 4, 2006.
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