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Filosofia

Por que a ideia de que o capitalista explora o trabalhador é inerentemente falsa

01/07/2022

Por que a ideia de que o capitalista explora o trabalhador é inerentemente falsa

O desejo declarado das várias escolas socialistas, desde os marxistas linha-dura até os social-democratas defensores do estado de bem-estar social, sempre foi o de levar justiça às relações econômicas de uma sociedade.  Em sua visão de mundo, justiça significa proteger os interesses dos trabalhadores contra os extorsivos capitalistas que supostamente não produzem nada, mas são capazes de colher formosos lucros.

Os social-democratas, não obstante, estão dispostos a trair seus princípios pelo simples fato de que uma sangrenta guerra civil em conjunto com uma economia centralmente planejada poderia ser ainda pior do que a contínua exploração dos trabalhadores.  Ainda assim, eles têm a impressão de que são os trabalhadores os proprietários supremos dos produtos porque foram eles que labutaram e suaram, isto é, que estiveram diretamente envolvidos na produção física dos bens.  

O economista austríaco Eugen von Böhm-Bawerk defendia a existência de lucros bastante altos por causa da necessária função exercida pelos capitalistas.  Entretanto, mesmo Böhm-Bawerk explicitamente reconhecia o direito básico dos trabalhadores a ter todo o valor dos bens por eles produzidos.  Porém, sua análise positiva era para tentar convencer o leitor de que a existência do capitalista é importante e de alto valor mesmo para os trabalhadores.  A função do capitalista, de acordo com Böhm-Bawerk, é fornecer aos trabalhadores os meios com os quais eles poderiam comprar bens (de consumo).

Os trabalhadores precisam dos capitalistas porque eles não podem ou não estão dispostos a esperar até que os produtos do seu trabalho amadureçam até atingir o valor completo dos bens de consumo.  Visto por esse prisma, a função básica de um capitalista parece ser meramente a de um bom vendedor que troca bens presentes (salários pagos) por bens de consumo futuros e ainda não terminados.  Assim, os trabalhadores recebem apenas um valor descontado -- o qual ainda é supostamente igual ao valor de seu produto marginal -- daquilo que, no final, irá se tornar bens presentes com completo valor de mercado.  E os capitalistas ficam com a diferença -- chamada de taxa de retorno. 

O argumento de que os trabalhadores não estão dispostos a esperar até que os produtos do seu trabalho finalmente amadureçam até o valor completo dos bens que produzem pode parecer um tanto insensível.  Afinal, esperar vários anos até ser pago integralmente o valor daquilo que produzem significaria a fome e a inanição para muitos trabalhadores e suas famílias.  Portanto, nas circunstâncias em que se encontram, os trabalhadores podem ser simplesmente incapazes fisicamente de esperar por um grande período de tempo para viver sob um estado de permanente dureza.  Por isso eles têm de aceitar esse arranjo. 

E por que, nesses casos, a taxa de retorno depende da preferência temporal dos capitalistas e não da dos trabalhadores?

Essas perguntas e lamúrias são válidas apenas se supusermos que os trabalhadores de fato são os proprietários legítimos dos bens produzidos.  A afirmação de que os trabalhadores recebem apenas uma fração daquilo que produzem significa essencialmente que os lucros são deduções dos salários.

Nesse artigo vou apresentar a dedução de

Sobre o autor

Wladimir Kraus

É membro sênior da FCA Markets Analysis and Risk e co-autor do livro Engineering the Financial Crisis: Systemic Risk and Failure of Regulation (University of Pennsylvania Press, 2011). Possui Ph.D. em Economia pela Universidade de Aix-Marselha.

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